Das centenas de candidatos a prefeito que o PCdoB lançará nas eleições municipais de 2020, um nome sobressai por sua trajetória repleta de singularidades. É o escritor e líder indígena Daniel Munduruku, pré-candidato a prefeito de Lorena, no interior de São Paulo.
Nascido em Belém (PA), Daniel descende da etnia indígena mundurucu e é presidente da do Instituto UKA – Casa dos Saberes Ancestrais. “Escrevo para manter-me indígena”, registra ele, em seu blog.
A opção pelo PCdoB, segundo Daniel, está diretamente ligada às suas origens. “Venho de uma tradição coletiva, comunitária, uma sociedade que tem se pautado pela comunhão das pessoas, dos bens – uma sociedade que vive o coletivo. Estar no PCdoB é como sistematizar aquilo tudo que venho vivendo”, afirma o escritor, em entrevista ao site do PCdoB-SP.
Formado em Filosofia, tem licenciatura em História e Psicologia. Fez também mestrado em Antropologia Social e doutorado em Educação pela USP, além de pós-doutorado em Literatura pela UFSCAR. É autor de mais de 50 livros de Literatura Infanto-Juvenil, pelos quais já recebeu condecorações como a Comenda da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República e o Prêmio Jabuti de Literatura. Foi, ainda, um dos fundadores da Academia de Letras de Lorena, da qual é membro.
No final de 2019, Daniel se filiou ao PCdoB, que o convidou a candidatar-se à Prefeitura de Lorena – um importante município de 88,7 mil habitantes, situada na região do Vale do Paraíba, do porte típico de cidade média, Lorena abriga três universidades, com destaque para o tradicional campus de Engenharia da USP (Universidade de São Paulo).
“Lorena tem muitos jovens porque é uma cidade universitária”, frisa Daniel. Por isso, na elaboração de um programa de governo para o município, ele diz que é preciso levar em conta desafios como o crescimento urbano, o desenvolvimento local, a mobilidade urbana – mas também a educação dos jovens.
Outro desafio enfatizado por Daniel é a construção de políticas públicas para a terceira idade. “Penso a cidade como uma grande teia”, diz o líder indígena. “Venho de uma sociedade que valoriza muito a criança – que pode tudo – e o velho – que sabe tudo. Quero fazer justamente uma junção entre esses dois extremos.”
Sobre a crescente participação indígena na política e, mais recentemente, em eleições, Daniel afirma que é uma oportunidade para desmistificar uma “visão muito estereotipada” da opinião pública sobre esse segmento da população. Parte das pessoas – diz ele – ainda vê os indígenas com o olhar do século 16. “Somos contemporâneos de vocês! Somos pessoas – homens e mulheres – do século 21. Estamos aqui e somos sujeitos do presente”, conclui.
De São Paulo,
André Cintra